quinta-feira, 30 de julho de 2009

Michael Obama Jackson da Silva

O que Lula, Barack Obama e Michael Jackson têm em comum? Li o post abaixo em outro blog e achei que devia compartilhar:


"Obama, o 44o presidente branco dos EUA"


"Sei que é um pouco tarde para falar da eleição à presidência de Barack Obama, principalmente porque os votos já foram contados e ele até já tomou posse, mas há algo que me inquieta, desde que todo este furor começou e Obama despontou como o favorito à Casa Branca.

Dois eventos em particular despertaram minha desconfiança sobre esta eleição; dois eventos frívolos, corriqueiros, mas que me revelaram uma nova perspectiva sobre como os americanos brancos viam Obama.

Havia três cachorros na rua: um preto, um marronzinho (quase bege-claro) e um branco. Alguns mendigos passaram e apontaram para os cachorros e começaram a nomeá-los. O branco era a Hillary Clinton, o preto era Colin Powell e o bege era, para minha surpresa, Obama.
Minha esposa imediatamente retrucou:
- Não, o Obama é o preto.
Mas os mendigos não aceitaram.
- Não, o Obama é metade branco, o Obama é o cachorro bege.

E o segundo evento foi quando, en passant, escutei, com o rabo de ouvido, a conversa entre uma mulher e um homem, brancos, sobre a eleição. A mulher, aparentemente defendendo seu ponto de vista e justificando seu voto em Obama, disse:
- Sabe o que é estranho? Eu não vejo Obama como um negro, mas apenas como um homem.

Estas duas histórias imediatamente me fizeram recordar do nosso presidente Lula. Toda a imagem que havia sido criada durante a carreira política dele era a do sindicalista, camiseta vermelha, barba desgrenhada e gritos de ordem sobre um palanque improvisado.
Mas esta imagem de político revolucionário-comunista não ganha eleições. Era mais ou menos na época da primeira vez que Lula se candidatou que eu ouvia muito as pessoas comentando:
- Eu não vou votar no Lula, porque senão vou ter que dividir meu apartamento com outras pessoas e eles vão tomar meu segundo carro.
Lula era temido porque trazia à tiracolo o estigma do comunismo. No entanto, bastou ele mudar a imagem, vestir terno e gravata, reduzir o tom de voz e falar pausamente, que a classe média foi conquistada. Lula foi eleito, e reeleito.

Vejo um grande paralelo, neste sentido, entre Lula e Obama. Ambos disseminavam uma mensagem de esperança, ambos representavam uma mudança significativa no cenário político - o primeiro, um torneiro mecânico, sem muita educação, tornado presidente; o segundo, um negro, num país extremamente preconceituoso, tornado presidente. Ambos dependiam da classe média para se elegerem.

Apesar do apoio dos latinos e dos negros, Obama jamais venceria as eleições se não fosse a adesão da classe média branca norte-americana. Mas a classe média branca norte-americana jamais aceitaria um presidente negro, se a imagem que Obama nos passasse fosse a mesma que boa parte dos negros americanos possui, as calças largas mostrando a cueca, o jaquetão de couro, o boné de aba reta virado pro lado, o inglês de gueto e os ameaçadores gestos de cantor de rap. Com uma imagem destas, Obama jamais ascenderia na carreira política, pois esta é uma imagem associada ao ódio racial e ao medo. Para se eleger, Obama precisou acolher e expressar valores brancos norte-americanos, o terno, a boa educação superior, a fala articulada e, principalmente, o foco na recuperação da economia.

Reúna uma combinação de fatores - a catastrófica administração Bush, a crise imobiliária e financeira, um adversário prenunciando uma continuidade nos erros da gestão anterior, e um clima de esperança e mudança - e é fácil compreendermos como o branco americano lançou para os porões do inconsciente seu preconceito e se recusou a dar importância à cor do candidato. Para os americanos brancos, Obama é um deles.

E não é à toa que Obama se esforçou para se afastar do pastor Jeremiah Wright, cujo culto ele frequentou por vários anos, e dos discursos antipatriotas dele, mesmo que este pastor houvesse dito muitas verdades. Obama se enbranquiçou para conquistar os americanos, mesmo que para os negros ele continuasse sendo o reflexo duma grande conquista social.

Em 1963, Martin Luther King Jr. projetou para a América o seu sonho de igualdade, de que os filhos dele vivessem "numa nação na qual eles não fossem julgados pela cor de suas peles, mas pelo conteúdo de seu caráter". Em 2008, Barack Hussein Obama empacotou, promoveu e vendeu este sonho; talvez ele não tenha conseguido evitar que os americanos o julgassem pela cor da pele, mas pelo menos ele teve êxito em fazê-los fingir que não julgam."

Em: http://www.maosdevaca.com

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Transcripciones nocturnas

"O caminho para o verdadeiro homem, o caminho para os imortais, Harry adivinha-o perfeitamente e percorre-o também aqui e ali com timidez, muito lentamente, pagando este avanço com graves tormentos e com seu doloroso isolamento. Mas, proporcionar-se, aspirar àquela suprema exigência, àquela encarnação pura e buscada pelo espírito, andar o único caminho estreito para a imortalidade, isto receia-o no mais profundo de sua alma. Tem perfeita consciência de que isto conduz a tormentos ainda maiores, à proscrição, à renúncia de tudo, talvez ao cadafalso; e, apesar de saber que no fim deste caminho a imortalidade sorri sedutora, não está disposto a padecer todos estes sofrimentos, a morrer todas estas mortes. Tendo ainda mais consciência do fim da encarnação do que os burgueses, fecha, todavia, os olhos e faz por ignorar que o apego desesperado ao próprio eu, a desesperada ânsia de viver, são o caminho mais seguro para a morte eterna, ao passo que o saber morrer, rasgar o véu do mistério, ir procurando eternamente mutações em si mesmo, conduz à imortalidade."

Hermann Hesse

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Universalização

Queria que esse título se referisse à universalização da tomada de consciência por parte das classes oprimidas, ou que a universalização em questão tratasse do reconhecimento de que o capitalismo, surpreendentemente (para alguns), consegue se fazer absoluto parecendo ter desaparecido, ou seja, fingindo-se de morto.

Mas a universalização a que me refiro é outra. Falo da igreja-universalização do mundo, fato que constatei assutado hoje à noite. Não que eu nunca houvesse sentido os reflexos dessa onda avassaladora de religiosidade alienada, mas sucedeu algo que até então inédito para mim. Eis que eu buscava um programa menos detestável na TV aberta, entre 21h30 e 22h da noite, quando me deparo com R. R. Soares, virtuoso intérprete divino da igreja universal. Sua figura é sempre presente na telinha, mas eu nunca soube dizer através qual canal ele monopolizava meu horror. Qual não foi minha surpresa quando constatei que ele estava, ao mesmo tempo, em dois canais! Sim, enquanto a Globo veiculava sua arrasadora trama telenovelesca sobre as lebloninas Índias, R. R Soares estava concomitantemente na Band e na CNT.

O que esperar? Um amigo diz que estamos vivendo a simpsonização do mundo. Todos ficarão mais amarelos, preguiçosos e vazios, como no seriado americano. Encontraremos uma moral-da-história recompensante ao final de cada episódio e não faremos nenhuma relação da nossa vida particular com o resto da sociedade, limitando-nos às boas ações esporádicas. Alguns seremos felizes, como alegres robôs. Outros permaneceremos no mundo sombrio do real concreto. Acho que além de tudo, a sociedade simpsonizada também será igreja-universalizada, em alguma de suas facetas.

Não deixa de ser curioso que essa igreja-universalização seja compatível com outra a universalização, a do capital e a da alienação. Sujeitos dóceis, preocupados apenas com seu lado religioso-individual, alheios às reais causas da miséria material e espiritual em que vivem. Afinal, tanto a igreja universal como uma empresa capitalista vivem dos fiéis clientes.

No fim das contas, as três universalizações não deixam de estar associadas, mas da forma mais desvantajosa possível. Universaliza-se a dominação, a ignorância e a miséria, no mesmo pacote social da nossa fatídica época. Equanto isso, R. R. Soares pode ocupar toda a grade de programação do nosso espelho mágico televisual.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Por que estudar Economia

A relação entre a indústria, o mundo da riqueza em geral
e o mundo político é um problema maior da época moderna.
K. Marx


Certa vez, num quarto de albergue no Deserto do Atacama, perguntaram-me o que me fez decidir pelo mestrado em Economia. Confesso que não me sentia preparado para responder, mas acho que, de forma geral, a resposta que dei está incluída na citação acima. Essa frase traz, além do conforto de expressar o motivo da minha escolha, duas implicações importantes.

A primeira delas é que, não obstante todas as transformações por que o mundo passou desde a Revolução Industrial, ainda vivemos, saibamos e queiramos isso ou não, sob o jugo do capital, filho pródigo da época Moderna. Vender a força de trabalho no home office continua sendo verder força de trabalho. O estranhamento com relação à produção incessante de mercadorias continua operando e, principalmente, a massa de miseráveis, população literalmente supérflua, continua aumentando. Se isso não é capitalismo, não sei o que pode ser. Essa constatação faz do pós-modernismo uma grande piada de mau gosto.

A segunda constatação decorre imediatamente da primeira e representa um esclarecimento importante. Marx não descreveu o sistema fabril inglês do século XIX, descreveu a essência de um modo de produção que tem como tendência a expansão ilimitada das forças produtivas, fazendo do homem objeto e do capital o sujeito de exploração. Isso não impede, e seria contrário ao próprio método de Marx, que sua teoria seja ampliada para dar conta de novas formas de manifestação da contradição capital-trabalho, inclusive as dos softwares livres imateriais Resultado: há muito o que fazer e pensar.

Perguntaram a Eric Hobsbawn, renomado historiador marxista, qual a diferença entre um marxista e um historiador. "Nenhuma", respondeu ele. O método de Marx, o materialismo histórico, não seria marxista se não estivesse apto a dar conta das transformações sociais. ocorridas ao longo da História. Por isso, enquanto houver capitalismo (no mínimo), haverá marxismo.

sábado, 11 de julho de 2009

Poeminha da boa viagem

Sê a minha visão
O meu toque
Os meus sentidos

Sê o meu corpo
A minha presença
A minha alma

Sê meu pensamento
Meu querer
Minha razão

Sê tu
A tua vida
E um pouco da minha

E volte sendo tudo isso
E um pouco mais
Para que eu seja um pouco assim
Também

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Um mestre

Um velho professor, terminando seu cigarro antes de entrar na aula. Socialista de nascimento, fez do ensino sua profissão. Escreveu, leu, tudo em grande quantidade. Está prestes a se retirar. É sua última aula. Reclusão, férias, aposentadoria. Leituras tranqüilas de um velho sábio, terminando calmamente seu cigarro em uma rede ou cadeira de balanço. Toda a atividade de sua vida terminará antes que ele mesmo termine. A sensação de que a vida passou e, ao mesmo tempo, seguirá sem ele. Ficarão as palavras, os sopros de consciência, os rostos iluminados dos discípulos. Cumpriu seu papel, foi mestre, na melhor acepção do termo. Agora, novos ocuparão seu lugar e a história seguirá. Mas ele existiu, definitivamente, existiu. E para aqueles que o ouviram, quando se for, estará mais vivo do que nunca.

Se é possível sentir nostalgia para algo que nunca se viveu, também é possível senti-la por algo que ainda não passou.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Premonitório? (título post festum)




Nova York. Estação do metrô. Um encontro inesperado.

A vida que é meu bem, meu mau

Fecho a porta do meu quarto e deixo espalhado pelo chão do cômodo toda a bagunça que me permiti acumular nos últimos dias. Arrumo tudo depois, ou não. Ou simplesmente acumularei mais bagunça e menos vontade de consertar tudo. Se o mundo pode ser tão errado, pergunto-me por que meu quarto não pode ser.

Existe um tipo de luz que, creio, não acende para todos e, para os que a enxergam, não acende a todo tempo. Difícil precisar o instante exato em que essa aura luminosa se espalha de dentro para fora do peito, mas eis que ela está lá, com o foco sobre algo genial, impossível, mágico, trágico, triste, medonho, feliz. Essa luz é algo parecido com a inspiração. Ou talvez seja o contrário dela. É ela que mostra um caminho, uma verdade, uma percepção, que nos faz pôr os cornos para fora e acima da manada, na qual nós mesmos estamos imersos durante a maior parte do tempo.

Vejo e revejo essa luz a partir dos olhos de muita gente. Não sabem que têm esse dom de me fazer ver o clarão. Nunca saberão disso. E com isso vejo, num simples olhar, o quão incompreensível se tornou nosso mundo. Assustadoramente, percebi que todos sabem o que fazer, mas ao mesmo tempo ninguém sabe disso.

Pergunto-me por que é tão difícil resolver nossos próprios problemas, já que fomos nós mesmo que os criamos. Falo da sociedade como um todo. Quanto já choramos pela miséria alheia e pela nossa própria? E o mundo continua rodando todos os dias como se os problemas não existissem. E uns mentem e outros acreditam e seguimos assim, com a resposta na ponta da língua, mas sem poder dizer.

O mundo segue girando, a cada sol, com os mesmos e outros novos problemas. Não parece haver solução. Não parecer ser desejada uma solução. E todas as soluções apresentadas são, de antemão, sabidamente ineficientes, mas mesmo assim são apresentadas como soluções. Se há um simulacro nessa sociedade não é dos sentidos, da verdade, da realidade, mas das soluções falsas. A miséria humana só aumenta, sempre alimentada pela mediocridade que serve de pasto. Em meio a isso ninguém acredita que podemos ser melhores. A miséria parece um atributo natural da humanidade, contra a qual não adianta reunir esforços, nunca será erradicada. Assim, melhor ficarmos como está e fazermos o máximo para que sejamos o menos possível miseráveis, porque miseráveis sempre seremos. Enquanto a uns é natural a pobreza, a outros é natural a riqueza.

E aquela luz, creia-me, não é um privilégio, mas apenas uma outra forma de chorar.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Tentativa de resgate

Diz-se que quem aprende a andar de bicicleta nunca esquece. É possível que seja verdade, mas nunca é tempo demais. Senão, como explicar a incapacidade de repetir tantas coisas que, ainda que as conheçamos com muita convicção em determinados momentos, com o passar do tempo esquecemos até mesmo que já fomos capazes de realizá-las? Outro dia tentei relembrar uma poesia que fiz apaixonadamente, mas que se apagou da memória e, mais grave, não consigo refazê-la. Esta é, portanto, uma tentativa de resgate de uma poesia morta, pesada, passada. As palavras vêm e vão, mas não consigo combiná-las da forma que fiz. Faço então uma poesia-testamento, em memória de algo que, um dia, foi sem nunca ter sido.


Quem nunca morreu de meio-amor
De noite e meia
Quem nunca viveu amor-inteiro
Sendo metade
Quem se acostumou a estar perdido
Sozinho não acha

Atirado
Morto, pesado, passado.
No canto do quarto
Trapo-fato

Transcripções nocturnas

"Ouça: 'A maioria dos homens não quer nadar antes que o possa fazer'. Não é engraçado? Naturalmente, não querem nadar. Nasceram para andar na terra e não para a água. E, naturalmente, não querem pensar: foram criados para viver e não para pensar! Isto mesmo! E quem pensa, quem faz do pensamento sua principal atividade, pode chegar muito longe com isso, mas, sem dúvida, estará confundindo a terra com a água a um dia morrerá afogado."

O lobo da estepe, H. Hesse.

É o caso de se pensar...