quinta-feira, 16 de julho de 2009

Universalização

Queria que esse título se referisse à universalização da tomada de consciência por parte das classes oprimidas, ou que a universalização em questão tratasse do reconhecimento de que o capitalismo, surpreendentemente (para alguns), consegue se fazer absoluto parecendo ter desaparecido, ou seja, fingindo-se de morto.

Mas a universalização a que me refiro é outra. Falo da igreja-universalização do mundo, fato que constatei assutado hoje à noite. Não que eu nunca houvesse sentido os reflexos dessa onda avassaladora de religiosidade alienada, mas sucedeu algo que até então inédito para mim. Eis que eu buscava um programa menos detestável na TV aberta, entre 21h30 e 22h da noite, quando me deparo com R. R. Soares, virtuoso intérprete divino da igreja universal. Sua figura é sempre presente na telinha, mas eu nunca soube dizer através qual canal ele monopolizava meu horror. Qual não foi minha surpresa quando constatei que ele estava, ao mesmo tempo, em dois canais! Sim, enquanto a Globo veiculava sua arrasadora trama telenovelesca sobre as lebloninas Índias, R. R Soares estava concomitantemente na Band e na CNT.

O que esperar? Um amigo diz que estamos vivendo a simpsonização do mundo. Todos ficarão mais amarelos, preguiçosos e vazios, como no seriado americano. Encontraremos uma moral-da-história recompensante ao final de cada episódio e não faremos nenhuma relação da nossa vida particular com o resto da sociedade, limitando-nos às boas ações esporádicas. Alguns seremos felizes, como alegres robôs. Outros permaneceremos no mundo sombrio do real concreto. Acho que além de tudo, a sociedade simpsonizada também será igreja-universalizada, em alguma de suas facetas.

Não deixa de ser curioso que essa igreja-universalização seja compatível com outra a universalização, a do capital e a da alienação. Sujeitos dóceis, preocupados apenas com seu lado religioso-individual, alheios às reais causas da miséria material e espiritual em que vivem. Afinal, tanto a igreja universal como uma empresa capitalista vivem dos fiéis clientes.

No fim das contas, as três universalizações não deixam de estar associadas, mas da forma mais desvantajosa possível. Universaliza-se a dominação, a ignorância e a miséria, no mesmo pacote social da nossa fatídica época. Equanto isso, R. R. Soares pode ocupar toda a grade de programação do nosso espelho mágico televisual.

Um comentário:

Rômulo disse...

Fui alertado que o R. R. Soares não é pastor da Igreja Universal, mas de outra seita concorrente.

A bem da verdade, isso não faz a menor diferença.