Diz-se que quem aprende a andar de bicicleta nunca esquece. É possível que seja verdade, mas nunca é tempo demais. Senão, como explicar a incapacidade de repetir tantas coisas que, ainda que as conheçamos com muita convicção em determinados momentos, com o passar do tempo esquecemos até mesmo que já fomos capazes de realizá-las? Outro dia tentei relembrar uma poesia que fiz apaixonadamente, mas que se apagou da memória e, mais grave, não consigo refazê-la. Esta é, portanto, uma tentativa de resgate de uma poesia morta, pesada, passada. As palavras vêm e vão, mas não consigo combiná-las da forma que fiz. Faço então uma poesia-testamento, em memória de algo que, um dia, foi sem nunca ter sido.
Quem nunca morreu de meio-amor
De noite e meia
Quem nunca viveu amor-inteiro
Sendo metade
Quem se acostumou a estar perdido
Sozinho não acha
Atirado
Morto, pesado, passado.
No canto do quarto
Trapo-fato
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