quinta-feira, 8 de outubro de 2009

O fim e o princípio


“- ¿ Y hasta cuándo cree usted que podemos seguir
en este ir y venir del carajo? – le preguntó.
Florentino Ariza tenía la respuesta preparada
desde hacía cincuenta y tres años,
siete meses y once días con sus noches.
- Toda la vida – dijo."

Gabriel García Marquez, El amor en los tiempos del cólera


Não sei dizer por que estou aqui. Não falo apenas sobre estar às 4:47 da manhã escrevendo no meu laptop um texto a ser publicado em um blog igual a tantos outros, que não merece mais atenção do que a que eu mesmo já dedico quando, por necessidade de moer algumas coisas internamente, decido-me por moê-las em público, ainda que privadamente. Na verdade, não sei se há sentido em tudo o que fazemos. Acho mesmo que não. Esquizofrenia de formigas? Talvez, mas isso não elimina o certo e o errado, ou melhor, a verdade, e essa é a grande questão filosófica. Talvez por predileção, talvez não, acho que todos temos uma função social a desempenhar diante da existencia, quer a cumpramos ou não. Não posso dizer definitivamente qual é a minha função social, mas já sei dizer quais não são. O fato é que temos vida e alguma consciência e isso já nos permite fazer muita coisa, como decidir qual é a cena mais bonita de nossa existência. E, diante dos meus 24 anos de vida, elejo como o momento mais belo um fim de tarde na praia na qual pude ler no tempo e no espaço o momento exato em que uma garota encerrou a leitura de um livro. Não precisaria dizer que não era uma garota qualquer, nem uma tarde qualquer, tampouco um livro qualquer. Toda a natureza estava concentrada em um ponto do cosmos que eu tive a sorte de perceber não mais que por acaso. O sinal foi um leve fechar e abrir de pálpebras, quase imperceptível e tão harmônico quanto a suave brisa que nos tocava a pele naquele instante. O livro se fechou e um suspiro indescritível aflorou de seu rosto, de seu corpo jovem e belo. O sol foi mais claro, o tempo mais devagar e o todo o som do ambiente estava supenso. Vi a própria vida diante de mim, uma pequena amostra da eternidade. Foi um segundo apenas, mas foi o instante mais puro, verdadeiro e repleto de sentido que pude depreender da existência. É o que ficará imortalizado em minha memória, conservado de tudo, para sempre.

Mas como saber exatamente o ponto em que uma história chega ao fim? Na vida, ao contrário de alguns filmes e livros, não existe uma legenda que marca inconfundivelmente o término de um episódio. Não existe um "FIM", como nas telenovelas ou nos romances de Agatha Christie. Da mesma forma, também não existe um "COMEÇO". Imaginem como seria engraçado um filme que iniciasse, logo depois dos créditos de abertura, com uma legenda como essa. De qualquer forma, não é difícil perceber que, mesmo sem legendas, a vida real está repleta de fins. Creio, contudo, não ser bobagem dizer que precisamos ser espertos para notar o quanto antes que, logo depois de um FIM, sempre vem um (RE)COMEÇO.

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