terça-feira, 18 de agosto de 2009

Grito hacia Roma


Duas semanas acordando sob o sol norte-americano de Nova York. Duas semanas transpirando nas ruas da Meca do consumo, na Roma moderna. Duas semanas respirando o medo que habita o inconsciente da cidade após o atentado de 2001. Duas semanas tentando entender o nosso próprio mundo, exagerado nas colunas de mármore dos templos imperiais do capitalismo. Difícil traduzir uma multitude de estímulos em uma única e precisa impressão. O que ficou de mais forte depois desses 15 dias é a sensação de derrota. Como disse Belchior e bem lembrou Rafael, "eles venceram e o sinal está fechado para nós que somos jovens". Jovens, pobres e subdesenvolvidos.

Do alto do Chrysler Building bradou Lorca sua midéria pessoal e nossa miséria comum. Do alto da cidade pude ver como todos os prédios e escritórios e luzes e força estão repletos de ausência, como o quadrado negro de Malevich. E entre os prédios de escritórios estão os museus, as bibliotecas públicas, as universidades, os bancos, todos erigidos sobre sólidas colunas de mármore indefectíveis. Como derrubar sequer uma dessas pilastras? Como vencer uma nação e ideais tão poderosos como os deles? Cada nave de igreja, cada corredor iluminado de museu, cada banheiro de universidade, cada maciça e pesada porta de madeira me derrotava como cada um de nossos países e ideais mais justos sucumbiram diante da força do império. Não temos força para vencê-los, por isso não poderemos vencê-los pela força.

E entre as colunas correm rios de pessoas que correm sempre com pressa, sempre comendo sem cerimônia, sempre com seus artefatos eletrônicos de última geração, conectados com o mundo e com ninguém. Há sempre uma loja virando a esquina, sempre algo para preencher o vazio cósmico de toda a existência que parece não refletir sobre si mesma. Soluções individuais, sempre. Almas penadas vagando sem se esbarrarem, sem se encontrarem, sem se verem e nem se falarem. E tudo funciona perfeitamente como tem que funcionar para o mundo funcionar como funciona. A bolsa de valores, a bandeira listrada, o World Trade Center e o trem que nos leva pontualmente até o aeroporto. Senti que aquilo é o capitalismo de verdade, subjugando a tudo e a todos ao seu ritmo incessante, impessoal, competitivo. A cidade é feita para funcionar no ritmo do capital. Mas a cidade é feita por pessoas e é bonita como são bonitas as pessoas. Seus parques, seus arranha-céus e suas luzes dão a dimensão do que o homem pode realizar. É possível ver em toda obra a natureza humana e, se se quer, admirá-la.

Algumas vezes senti orgulho de ser subdesenvolvido. Não ufanismo, mas a sensação de que ao menos a responsabilidade por inventar e liderar esse mundo não é nossa. Isso não nos exime das demais responsabilidades, pelo contrário, mas me faz sentir algum conforto ao voltar para casa. Se, como disse Marx, os países desenvolvidos não fazem senão mostrar aos países atrasados o espelho do seu futuro, sinto desde já uma nostalgia do que poderia ter sido e, se reconheço a derrota, o faço sem deixar de pensar que um outro mundo, além de possível, é necessário.

2 comentários:

Unknown disse...

Ao país das bombas - a favor e contra si, atômicas ou não, religiosas ou não, políticas ou não; a tua alma que não se acalenta:

Jurei mentiras e sigo sozinho, assumo os pecados
Os ventos do norte não movem moinhos

E o que me resta é só um gemido
Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos,
Meu sangue latino, minha alma cativa

Rompi tratados, traí os ritos
Quebrei a lança, lancei no espaço
Um grito, um desabafo

E o que me importa é não estar vencido
Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos,
Meu sangue latino, minha alma cativa

(Composição: João Ricardo / Paulinho Mendonça)

Unknown disse...

eles venceram, mas n há nada fechado par nós...porque somos jovens...abraçao suvaco...saudade mlq