quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Fevereiro

Como a gota que transborda o copo
e não se pode evitar

O suspiro que desata o choro
derramando para aliviar

O calor que rebenta em chuva
na máxima saturação do ar

Fevereiro deságua
sem poder mais aguardar

Com o fim anunciado
e de curta duração
se consome em desespero
euforia e redenção
é tensão que alivia
sem resposta ou solução

Por ser tão esperado
passa logo, vai embora
é impulso represado
derrama-se e evapora
na cidade inteira, deságua
mas no meu coração, demora

E aos que choram sua morte
esgotados em plena graça
Fevereiro dissimula
lança cinzas sobre a praça
veste outra fantasia
e de março se disfarça

Pois é mesmo como o tempo
passa, mas não termina
semeia o próximo deságüe
com a última serpentina
escorre por entre as ruas
morre, porém germina




(Inspirado em Verão, de F. Gullar; Cores, de R. Bacelar;
e em todas elas que vejo passar)

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