Não sou crítico de arte. Procuro embasar minhas avaliações sobre livros, filmes, peças, quadros e esculturas no pouco que estudei sobre essas matérias e nos sentimentos que cada obra provoca em mim. Escrevo ainda sob o efeito do filme Avatar e é sobre ele que gostaria de falar. É possível que a impressionante gama de efeitos visuais aplicada ao filme tenha me impressionado mais do que meu espírito de isenção gostaria, mas não posso deixar de reconhecer que, além do show de computação gráfica, Avatar contém uma mensagem importante sobre todos nós. Cabe ressaltar, em primeiro lugar, que os efeitos visuais utilizados no filme, longe de comprometer a narrativa e desviar o foco da atenção, potencializa a história e as sensações do espectador, ao menos assim se passou comigo. O filme está repleto de cenas em que a natureza é tão bonita e exuberante que faltam palavras para descrevê-la, assim como acontece quando se chega ao topo de uma montanha para assistir ao sol se por no mar. Toda essa maravilha é ainda intensificada pelos recursos 3D, que merecem uma observação a parte. No começo do filme, senti uma certa vertigem ao me deparar com imagens tão assustadoramente reais. Tudo parecia mais real que a própria realidade. Senti-me um pouco sufocado e tive ímpetos de tirar os óculos 3D para respirar um pouco do real, mas aos poucos fui me adaptando e, depois de quse 3 horas de filme, confesso que saí da sala achando a realidade um pouco sem graça.
Mas, como disse, a exuberância visual não compromete o enredo, pelo contrário. Isso acontece justamente porque o centro da história é a própria natureza em relação com os homens. É certo que se pode argumentar contra o típico roteiro da narrativa clássica norte-americana (com herói, par romântico, vilão e final feliz), mas acredito que o conjunto de sensações transmitidas pelo filme consegue o êxito de expandir a fronteira das limitações impostas pela estrutura convencional de narração. Avatar consegue tratar do tema homem-natureza de forma inesperadamente não-piegas para um filme comercial. De quebra, liberta nossa imaginação e nos permite visualizar uma sociedade bem estruturada cujos valores essenciais são radicalmente distintos daqueles que vigoram no nosso mundo. Decerto há muito de hominização imputada aos Na'vi, mas isso não ofusca a imagem principal de um povo que vive dentro da natureza, ao invés de tratá-la como algo alheio, externo e desligado da existência social. Além de mostrar outra forma de relação sociedade-natureza, o filme não se furta a exibir - talvez de forma caricata (mas ainda assim válida) - a miséria ética do comportamento guiado por interesses capitalistas e sua trágica simbiose entre economia, ciência e guerra. Esse padrão de comportamento está presente no dia-a-dia das nossas vidas.
Entrei no cinema cético com relação à celebração em torno do filme. É certo que, diante da enorme estrutura industrial criada em torno do circo cinematográfico, a celebração superficial e comercialóide é inevitável. Afinal, não se pode esperar muito de uma platéia que transforma o Capitão Nascimento em herói nacional, nem de uma crítica babaca que simplesmente não entendeu Tropa de Elite, apenas para citar um exemplo. De toda forma, pelos motivos que tentei expor, saí do cinema com a sensação de ter presenciado, para dizer o mínimo, uma grande experiência audiovisual (muito mais impressionante que as telas de plasma com transmissão high definition - que tornaram impossível esconder os cravos na cara do Will Smith). Acho mesmo que a forma de fazer cinema e a relação entre ficção e realidade está prestes a atingir um ponto angular. Por outro lado, e mais importante, o filme funciona como alegoria da destruição que o homem provoca a si mesmo, desconhecendo culturas, conhecimentos, vidas, povos inteiros, destruindo tudo na busca desenfreada por riqueza e poder. Funciona também como previsão de um futuro ainda mais sombrio para a humanidade. Enfim, a ótima combinação entre beleza visual e enredo faz suspirar e me permite dizer que o filme aborda de forma digna temas importantes para todos nós: homens e sociedade.
Mas, como disse, a exuberância visual não compromete o enredo, pelo contrário. Isso acontece justamente porque o centro da história é a própria natureza em relação com os homens. É certo que se pode argumentar contra o típico roteiro da narrativa clássica norte-americana (com herói, par romântico, vilão e final feliz), mas acredito que o conjunto de sensações transmitidas pelo filme consegue o êxito de expandir a fronteira das limitações impostas pela estrutura convencional de narração. Avatar consegue tratar do tema homem-natureza de forma inesperadamente não-piegas para um filme comercial. De quebra, liberta nossa imaginação e nos permite visualizar uma sociedade bem estruturada cujos valores essenciais são radicalmente distintos daqueles que vigoram no nosso mundo. Decerto há muito de hominização imputada aos Na'vi, mas isso não ofusca a imagem principal de um povo que vive dentro da natureza, ao invés de tratá-la como algo alheio, externo e desligado da existência social. Além de mostrar outra forma de relação sociedade-natureza, o filme não se furta a exibir - talvez de forma caricata (mas ainda assim válida) - a miséria ética do comportamento guiado por interesses capitalistas e sua trágica simbiose entre economia, ciência e guerra. Esse padrão de comportamento está presente no dia-a-dia das nossas vidas.
Entrei no cinema cético com relação à celebração em torno do filme. É certo que, diante da enorme estrutura industrial criada em torno do circo cinematográfico, a celebração superficial e comercialóide é inevitável. Afinal, não se pode esperar muito de uma platéia que transforma o Capitão Nascimento em herói nacional, nem de uma crítica babaca que simplesmente não entendeu Tropa de Elite, apenas para citar um exemplo. De toda forma, pelos motivos que tentei expor, saí do cinema com a sensação de ter presenciado, para dizer o mínimo, uma grande experiência audiovisual (muito mais impressionante que as telas de plasma com transmissão high definition - que tornaram impossível esconder os cravos na cara do Will Smith). Acho mesmo que a forma de fazer cinema e a relação entre ficção e realidade está prestes a atingir um ponto angular. Por outro lado, e mais importante, o filme funciona como alegoria da destruição que o homem provoca a si mesmo, desconhecendo culturas, conhecimentos, vidas, povos inteiros, destruindo tudo na busca desenfreada por riqueza e poder. Funciona também como previsão de um futuro ainda mais sombrio para a humanidade. Enfim, a ótima combinação entre beleza visual e enredo faz suspirar e me permite dizer que o filme aborda de forma digna temas importantes para todos nós: homens e sociedade.
Por último, gostaria de dizer que essas reflexões inspiraram um pensamento que talvez faça algum sentido. Se nem toda a miséria humana globalizada, gerada ao longo de séculos, foi capaz de sensibilizar o homem e fazer a humanidade perceber o quão trágica é a existência nos moldes em que vivemos, talvez somente uma verdadeira ameaça de hecatombe ambiental nos faça despertar, através da possibilidade de uma destruição completa da raça humana, para a realidade cruel que a socidade imputa diariamente a cada um de nós. Perceber que o sistema é incompatível com o ambiente do qual emergimos pode nos fazer perceber como ele é incompatível com a própria liberdade humana. Talvez esse seja o melhor uso que o discurso verde, tão banalizado e cinicamente apropriado, pode assumir.
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